Projeto Viário de Mário Leal Ferreira

 

A Bahia de Caramuru recebeu sua primeira estrutura urbana, em 1536, com a Vila do Pereira. A metrópole foi estabelecida, em 1549, quando Thomé de Souza fundou a Cidade do Salvador.

De 1587 a 1638, Salvador foi várias vezes bombardeada por ingleses, franceses e holandeses, que chegaram a invadi-la, em 1624. Nessa época, a Cidade foi parcialmente destruída. Sua reconstrução tomou grande impulso após a restauração da Coroa Portuguesa, em 1640. No final do século 17, já era uma das maiores metrópoles da América. Até a primeira metade do século 19, era uma das mais belas cidades do Hemisfério Sul. Charles Darwin apaixonou-se por Salvador quando aqui esteve.

No início do século 20, o mundo clamava por modernidade e muitas cidades foram reestruturadas, com grandes avenidas para bondes e automóveis. Era o progresso. Nessa época, Salvador passou por grande reestruturação urbana, com a ampliação do Porto, a construção da Avenida Sete de Setembro e a Avenida Oceânica.

Mas a Cidade continuava a crescer. Em abril de 1943, o engenheiro e urbanista baiano Mário Leal Ferreira (1895-1947) comandava o Escritório do Plano de Urbanismo da Cidade do Salvador (EPUCS), instalado em um edifício na Praça Cayru. Nesse mesmo ano, o arquiteto baiano Diógenes Rebouças (1914-1994) passou a integrar a equipe do EPUCS. Esse órgão desenvolvia estudos de urbanismo, com base em investigações científicas, históricas e sociais. Esses estudos recomendaram dois sistemas viários integrados: o da Cidade Baixa, com uma avenida de contorno, e o da Cidade Alta, com vias primárias lançadas nos vales e vias secundárias nos altiplanos. Nesse ousado plano urbanístico, vários aspectos foram considerados, como geologia, saneamento, habitação, educação, transporte e meio ambiente.

Mário Leal Ferreira faleceu, em 1947, antes de ver seu plano executado. Assumiu seu lugar, no EPUCS, Diógenes Rebouças, que deu continuidade aos projetos. Os trabalhos do EPUCS resultaram no Decreto-Lei 701/48, gênese do Código de Urbanismo da Cidade do Salvador.

Em 1959, assumiu o prefeito Heitor Dias Pereira, que criou a SURCAP - Superintendência de Urbanização da Capital, uma autarquia com a missão de tirar do papel o plano viário de Mario Leal Ferreira. Nos anos '60 foram construídas, por exemplo, a Avenida Centenário, Av. San Martin, Vale dos Barris, Vale de Nazaré (1969), Avenida Contorno e o Túnel Américo Simas, que passa sob o bairro de Santo Antônio, outra obra importante de interligação da Cidade Baixa e Cidade Alta.

Em 1967, Antônio Carlos Magalhães assumiu a prefeitura da Capital e as reformas estruturais tomaram novo fôlego.

Nos anos '70, continuou-se a revolução urbanística de Salvador, mas com um novo conceito: a descentralização da Cidade. Construiu-se a Avenida Paralela à Orla Marítima (av. Luís Viana), permitindo uma acesso mais rápido ao Aeroporto, às praias da costa oceânica e ao Litoral Norte do Estado. A nova Rodoviária, uma das maiores do Brasil, foi inaugurada em 1974.

Também, na primeira metade dos anos '70, foi construído o Centro Administrativo da Bahia (CAB), com acesso pela Paralela. O projeto viário foi de Lúcio Costa, o mesmo arquiteto que projetou Brasília. Os modernos edifícios das secretarias estaduais, cercados por muito verde, foram projetados pelo arquiteto João Filgueiras Lima (1932-2014). Hoje, o CAB também abriga anualmente o GP Bahia de Stock Car.

No final dos anos 1970, Salvador era uma cidade de concepção urbanística moderna, descentralizada. O antigo Centro tornou-se o Centro Histórico, cujos prédios centenários foram restaurados, preservando seu patrimônio secular.

Mas a Cidade continuou a crescer e várias outras avenidas, parques e praças foram construídas.

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A arquitetura criativa do Centro de Exposições do Centro Administrativo da Bahia, o CAB, projeto do arquiteto João Filgueiras Lima (foto Alberto Fascio, em 1978). A maior parte da estrutura administrativa da Bahia, antes espalhada em vários prédios da Capital, foi reunida no CAB.

 

O Vale de Nazaré e o Viaduto Marta Vasconcelos (inaugurado em 1969), que dá acesso ao Túnel Américo Simas, em direção à Cidade Baixa (foto Willi Fulgraf, por volta de 1970 ).

Posteriormente, foi construído o Terminal do Aquidabã, embaixo do Viaduto.

 

O Campo Grande, por volta de 1970, passando por baixo a ligação da Avenida Contorno com o Vale do Canela (foto J. Kalkbrenner Fº.).

 

A Avenida Contorno, projeto de Diógenes Rebouças (1958) concluída no início dos anos 1960, ligando a Cidade Baixa à Cidade Alta. À esquerda, está o Solar do Unhão (postal Mercator, cerca de 1970).

 

O Vale do Canela e o Campus da UFBA, nos anos 1960, chamado, na época, de Vale Universitário. Bela paisagem em um perfeito planejamento urbano (foto Zito). Embaixo, a mesma avenida vista do acesso ao bairro da Graça, em postal Paraná-Cart, circulado em 1967.

 

Este é um mapa esquemático da reestruturação de Salvador, publicado em dezembro de 1963, na revista Quatro Rodas, pelo Governo da Bahia. A Av. do Camorogipe é a atual Juracy Magalhães Jr. Nessa época, o município de Salvador tinha cerca de 720 mil habitantes.

 

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Por Jonildo Bacelar