Parque e Fonte do Queimado
O Parque do Queimado abriga a memória do audacioso sistema de abastecimento de água encanada de Salvador, do século 19, um marco da engenharia nacional. A Companhia do Queimado foi a primeira concessionária de captação, tratamento e distribuição de água do Brasil.
No século 16, o abastecimento de água em Salvador era feito diretamente através dos rios, lagos e fontes naturais da Cidade. Com o tempo, algumas fontes receberam uma estrutura de alvenaria.
A Fonte do Queimado, localizada na divisa dos bairros da Lapinha e Caixa d'Água, foi descoberta pelos jesuítas por volta de 1600. O local é o berço do rio Queimado. Em 1801, a fonte recebeu uma edificação em alvenaria. A estrutura em alvenaria atual data de 1838, como indica um placa afixada.
Em 1839, começou a ser construída a fábrica de tecidos de Santo Antônio do Queimado (veja quadro vermelho abaixo).
A antiga Companhia de Águas do Queimado teve sua criação autorizada, em 17 de junho 1852, através da Lei Provincial nº 451, com instalações na antiga Fazenda Santo Antônio do Queimado, ao lado da fábrica de tecidos. Atualmente, no bairro do Queimadinho, junto à Caixa d'Água. Buscava-se a implantação de um serviço de água potável canalizada para a Cidade. Previa-se que a distribuição de água se daria principalmente por chafarizes, casas de venda d'água e residências, com a instalação de penas d'água, um dispositivo que permitia a medição da vazão. O contrato com a Companhia do Queimado foi assinado em 17 de janeiro de 1853, com o presidente da Província, e previa a concessão e o monopólio do serviço, por 30 anos. O contrato foi renovado em 22 de dezembro de 1870, com base em lei de 17 de junho do mesmo ano. Nesse novo contrato, a Companhia estava obrigada a começar, dentro de um ano, as obras para o encanamento das águas do Riacho Negrão, Fonte da Telha e Rio Camarojipe (Camarajipe), e as concluir no prazo de quatro anos. Além disso, a Companhia estava autorizada a instalar novos chafarizes e obrigada a construir quatro casas de banho.
A Companhia do Queimado foi instalada em 1º de fevereiro de 1853, com escritório na Rua Nova do Comércio, n.21, 1º andar. O diretor era Paulo Pereira Monteiro e o vice-diretor, o jurista baiano Francisco Antonio Pereira Rocha, um dos sócios fundadores.
A Companhia construiu uma represa no local e construiu cisternas e cacimbas pela Cidade. Em oito de dezembro de 1856, a água do Sistema do Queimado jorrou nos chafarizes importados da Europa, tornando-se a primeira no Brasil a distribuir água encanada à população. Em sete de janeiro de 1857, iniciou a venda de água.
Alguns anos depois, a Companhia do Queimado tinha instalado um sistema de 22 chafarizes distribuídos pela cidade, incluindo o magnífico chafariz do Terreiro de Jesus.
Em 1858, foi instalado, ao lado da ponte do Consulado, uma torneira para fornecimento de água aos navios. Foram também instaladas, na Cidade Baixa, onze torneiras para combate a incêndio, pelo sistema Mr. Mary, assentados desde o Corpo Santo até o trapiche Moncorvo. Em 1884, já eram 92 dessas torneiras em toda a Cidade.
A represa do rio Queimado tinha capacidade para fornecer mil m³ de água por dia. O antigo reservatório da Cruz do Cosme começou a funcionar em janeiro de 1857, quando se iniciou a distribuição de água pela Companhia. A inauguração oficial ocorreu em 1859, com a presença de D. Pedro II. Era um conjunto de três reservatórios, um apoiado com mil m³ e dois elevados, em caixas metálicas, com cem m³ cada. Armazenavam a água proveniente das estações de bomba do Retiro e do Queimado. O sistema usava bombeamento acionado a vapor, pois não existiam sistemas de energia elétrica na época.
Em 1860, de acordo com a Fala do Presidente da Bahia na Assembleia, Herculano Ferreira Penna, a Companhia possuía também uma grua hidráulica no Cais, junto à Praça do Comércio, para o abastecimento de água dos navios. Nessa época, algumas das principais ruas da Cidade já possuíam encanamento e construíam-se grandes artérias para abastecer a Cidade, desde a Barra até o Bonfim. A venda de água nos chafarizes chegava a 13 mil barris por dia, no verão, e nas penas d'água atingia 8 mil barris. Pretendia-se estender os encanamentos a todas as ruas e becos. As ações da Companhia estavam bem valorizadas.
Os reservatórios elevados da Cruz do Cosme eram popularmente conhecidos como caixa d'água e esse ficou o nome do bairro. Hoje, as caixas são em alvenaria e muito maiores. Em 1905, a Companhia do Queimado foi adquirida pelo Município e funcionou no local até 1930.
Em 1910, um outro serviço de abastecimento de água, executado pelo engenheiro baiano Theodoro Sampaio, passou a atender a Cidade Baixa, subúrbios e mais alguns bairros, como Barra, Rio Vermelho e Brotas.
Em 1926, o Governo da Bahia assumiu a responsabilidade pelo abastecimento de água de Salvador. Hoje, as instalações pertencem à Embasa (Empresa Baiana de Águas e Saneamento), uma empresa de economia mista, criada em 1971, cujo acionista majoritário é o Governo do Estado da Bahia.
Junto ao reservatório elevado, funciona o Museu Arqueológico da Embasa, inaugurado em 2006. O Parque do Queimado é um centro cultural, tombado pelo Iphan, desde 1937, junto com a Fonte do Queimado. Em dezembro de 2014, parte das instalações foram cedidas ao Programa Núcleos Estaduais de Orquestras Juvenis e Infantis da Bahia (Neojiba).
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Parte das antigas instalações do Queimado.
Antigo reservatório metálico da Cruz do Cosme (clique na imagem para ver uma paisagem).
A represa e instalações da Companhia do Queimado registrada por Guilherme Gaensly, cerca de 1880. Ao fundo, vê-se o Convento da Soledade (clique na foto para ampliar).
Fábrica de Tecidos de Santo Antônio do Queimado
Ao lado da Companhia de Águas, ficava a fábrica de tecidos de Santo Antônio do Queimado, montada em 1840, ou antes, e adquirida, em 1844, por Paulo Pereira Monteiro. Espinheira Junior era sócio de Monteiro.
A Lei Provincial n. 246 de 20 de maio de 1846 favorecia a indústria têxtil da Bahia, que se tornou o principal polo nacional do ramo. Essa Lei isentou, por dez anos, dos direitos provinciais, os produtos das fábricas de tecer e de fiar algodão, de Valença e do Queimado. Em 1849, esses benefícios foram estendidos às demais fábricas de tecidos da Bahia. A Fábrica de Valença era dirigida pelo engenheiro baiano Augusto Frederico de Lacerda, que posteriormente uniu-se ao seu irmão Antônio de Lacerda para construir o ousado Elevador.
Posteriormente, Monteiro contratou na França, o engenheiro civil francês José Revault, para a instalação das máquinas à vapor da fábrica de Sto. Antônio do Queimado. A fábrica operava anteriormente com um sistema hidráulico e passou a operar com um motor à vapor de 18 cavalos. Depois, Revault passou a dirigir a fábrica, que tinha 30 teares e fabricava 1.000 varas de tecido por dia.
Na 2ª Exposição Nacional de 1866, realizada no Rio de Janeiro, a fábrica de tecidos do Queimado recebeu medalha de prata.
Em 1857, o engenheiro Revault deixou a fábrica do Queimado para montar outra fábrica de tecidos, a Modelo, na Rua da Valla, da qual era sócio fundador e gerente. Em 1866, sua fábrica contava com 39 teares franceses, com capacidade para produzir 1.500 varas de tecido, por dia. Revault participou também da instalação dos chafarizes da Cidade, a partir de 1855, e da montagem do Monumento Riachuelo, em 1874.
Acima, instalações da antiga Companhia do Queimado, em 2014. Atualmente é um parque histórico administrado pela Embasa. Embaixo, a Fonte do Queimado atual, ainda com seu aspecto da reforma de 1838 (veja uma foto antiga).
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Parque e Fonte do Queimado
Manu Dias
Divulgação