O Carro Mais Antigo do Brasil
O único carro do século 19, no Brasil, que chegou aos nossos dias, é uma Voiture Légère Clément, para três passageiros, fabricada pela francesa Clément-Panhard, adquirida pelo engenheiro e empresário francês José Henrique Lanat, que morava em Salvador.
O construtor, Gustave Adolphe Clément-Bayard (1855-1928), era um artesão francês. Em 1876, abriu uma oficina para reparo de bicicletas e passou a fabricá-las, em 1878, em Paris. Dois anos depois, a Clément & Cie já tinha cerca de 150 empregados e cerca de 400, em 1885. Em 1895, Clément uniu-se à Compagnie des Cycles Gladiator e começou a fabricar triciclos, com motor de combustão interna. Em janeiro de 1897, os dois primeiros veículos com a marca Clément saíram da fábrica localizada em Levallois-Perret, subúrbio de Paris. Nesse mesmo ano, Clément investiu em uma parceria com a francesa Panhard & Levassor, que já vendia automóveis desde 1890. Posteriormente, Clément passou a fabricar dirigíveis e aviões e tornou-se uma lenda da indústria da França.
O projetista. Ainda, em 1897, o visionário engenheiro francês Arthur Krebs (1850-1935) sucedeu a Èmile Levassor como diretor geral da Panhard & Levassor. Krebs foi o gênio que projetou a voiture légère, o carro que teve cerca de 500 unidades vendidas, de 1898 a 1902, antes da invenção da linha de montagem. Krebs também é uma figura lendária por suas contribuições pioneiras na engenharia.
A Voiture Légère Clément foi lançada na Exposition Internationale d'Automobiles, em Paris, de 1898 (15 de junho a 3 de julho), o primeiro salão de automóveis realizado no mundo. No evento, a empresa recebeu cerca de 300 encomendas do carro, muito mais do que a capacidade de fabricação na época.
O Catalogue Clément-Panhard 1900 registra o modelo adquirido por Lanat como Voiture Légère "Clément", modèle à 3 places, moteur: 4 chevaux 1/2 environ. Prix: 4.500 francs. Tem partida por manivela. Segundo o site Clement Panhard on the Web, são conhecidos apenas 17 carros Clément-Panhard ainda existentes em todo o mundo, incluindo o de Lanat, em Salvador.
O engenheiro José Henrique Lanat era proprietário de uma fazenda perto do Forte do Barbalho, em Salvador. A fazenda foi loteada e tornou-se um pequeno bairro, que leva seu nome. Segundo Nelson Cadena, Lanat era proprietário da Natal Automóveis importadora de veículos e peças de reposição. Nos anos 1920, seu nome aparece relacionado, no Almanak Laemart, ao Moinho São José, na rua Garcia.
O carro de Lanat foi fabricado provavelmente em 1899.
Segundo a reportagem da revista 4 Rodas (capa acima), o carro chegou em Salvador em 13 de fevereiro de 1900, o último ano do século 19. Tem a indicação Voiture Clément, número 475, e teria sido o terceiro carro a entrar no Brasil, segundo a revista (provavelmente foi o sexto ou sétimo). A buzina, em forma de cobra, foi instalada em 1914. Desenvolvia até 40 km/h, com seu motor traseiro de 4 tempos, refrigerado a água, um cilindro e transmissão por corrente.
O carro foi aposentado por volta de 1930, mas retornou reluzente para o desfile de comemoração dos 400 anos de fundação da Cidade do Salvador, em 1949, restaurado pelo engenheiro Henrique Lanat (filho).
Em dezembro de 2007, o veículo centenário foi doado pela família ao Museu da Santa Casa da Misericórdia da Bahia. Conduziram o veículo um neto e uma bisneta, em trajes de 1900, veja antigo do Pit Stop Bahia. A relação da família Lanat com a Santa Casa é antiga. Exemplo, o Almanak Laemart 1921-22 indica que José Henrique Lanat era o mordomo das machinas da Irmandade da Santa Casa. Em 1897, ele também aparece como membro da Maçonaria em um impresso das Officinas dos Dois Mundos – Bahia.
Mais: o Thomson road steamer, em Salvador, em 1871, o primeiro veículo urbano a rodar com sucesso, no Brasil.
Por Jonildo Bacelar
O carro de Lanat, em exposição permanente no Museu da Santa Casa da Misericórdia da Bahia, instituição fundada em 1549 e que abriga um dos mais importantes acervos de arte sacra da América.
Anúncio da Voiture Légère Clément, para dois passageiros, de 1900.
Embaixo, cartaz do evento, em Paris, no qual o carro foi lançado.
A baiana Maria Olívia Rebouças Cavalcanti, Miss Brasil 1962, com o carro mais antigo do Brasil, em frente à casa do artista baiano Genaro de Carvalho (1926-1971), pioneiro da tapeçaria moderna no Brasil.
A Família Lanat e seu carro no início do século 20.
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