O século 18 representou ao apogeu histórico da capital do Estado do Brasil, quando Salvador se tornou uma das cidades mais belas e mais bem fortificadas do mundo, pontilhada de torres de igrejas. Era a segunda maior cidade do Império, atrás apenas de Lisboa. Nos anos 1720, Salvador era cerca de duas vezes maior que as maiores cidades das colônias britânicas na América do Norte, incluindo Nova York.
Os Estudos Gerais do Colégio dos Jesuítas funcionava como uma universidade e a Cidade também contava com um curso de formação de engenheiros militares, que funcionava no Forte de São Pedro.
O sueco Johan Brelin, da Companhia Sueca das Índias Orientais, registrou em seu livro De passagem pelo Brasil e Portugal em 1756, que Salvador tem um aspecto grandioso e agradável, particularmente porque entre as casas existem belos pomares. As ruas são irregulares e tem que se descer e subir escadarias longas e íngremes. Todas as casas são construídas de pedras à maneira espanhola ou portuguesa. Contam-se nesta cidade mais do que 130 igrejas e 186 conventos, tão abundantes em ouro e prata que, se existissem igrejas semelhantes na Europa, seriam visitadas como grandes maravilhas. A cidade é considerada a mais rica entre as que estão sob a Coroa Portuguesa.
Em 1759, a Companhia de Jesus foi expulsa da América Lusitana. As instalações dos jesuítas, seus conventos e igrejas foram desocupados e assumidos pela Coroa Portuguesa.
Em 1763, a capital do Estado do Brasil foi transferida de Salvador para o Rio de Janeiro. Salvador continuou como a Capital Eclesiástica da América Lusitana, até 1891, e a Capital Jurídica de sua parte norte, até 1808.
Em 1779, Salvador tinha cerca de 65 mil habitantes (veja quadro vermelho). Salvador era, então, mais de duas vezes maior que a Cidade de Nova York que se tornou a primeira capital dos Estados Unidos poucos anos depois.
Em 1796, intelectuais e membros da elite baiana iniciaram um movimento de emancipação política, conhecido como Conjuração Baiana. O movimento ganhou apoio de Ganhou apoio de caboclos, artesãos e soldados, mas foi sufocado e quatro pardos foram enforcados, em 1798.
O século 18 conheceu a majestosa Sé Primacial, em sua mais suntuosa arquitetura. Nesse século foram construídas muitas igrejas e conventos na Cidade, de grande valor histórico, como: Conventos das Mercês, Lapa, Soledade e Perdões, Hospícios de Jerusalém e de São Phelipe Neri, Recolhimento de São Raimundo Nonato, Igrejas de São Joaquim, Bonfim, Nazaré, Rosário dos Pretos, Rosário dos Pardos (Av. 7), Boqueirão, Pilar, Brotas, Boa Viagem, Penha, Ordem 3ª de São Domingos Gusmão, Ordem 3ª da Santíssima Trindade, Barroquinha, Lapinha, Mares da Lagoa de Amaralina, São Cristóvão dos Lázaros (Baixa de Quintas), Saúde e Glória, Aflitos, Santana e a Igreja da Rua do Passo, entre outras. A demanda para a construção de templos e conventos era tão grande que passou a serem aprovados pelo Rei de Portugal.
No século 18, as artes dramáticas amadureciam em Salvador. O Teatro da Câmara funcionava em 1729. O segundo teatro público foi a Casa da Ópera, que funcionava em um sobrado do Distrito da Sé, no final do século 18. Em 1812, foi inaugurado o Theatro São João, a maior casa de ópera do Brasil, até então.
Salvador era então um tesouro de arte barroca (muito dessa arte foi substituída pelo neoclássico no século 19).
No final do século 18, Salvador continuava como a maior e a mais rica cidade do Brasil, mesmo não sendo mais sua capital. A inigualável quantidade de grandes e belas igrejas na Cidade é uma prova de sua riqueza. Foi somente ultrapassada pelo Rio de Janeiro após a chegada da Família Real, em 1808.
Mais: Brasil no Século 18 e Salvador no Século 19 ►
Mapas e Ilustrações de Salvador no Século 18
1714 - Planta de Frezier, com perfil
c. 1715 - Planta de Jean Massé, versão de Vilhena
1744 - Cidade de Salvador, Emanuel Bowen
1758 - Prospecto de José Antonio Caldas
Entre 1760 e 1769 - Planta de Salvador, mapa holandês
1779 - Prospecto de Salvador, Carlos Julião
1786 - Prospecto de Manuel Rodrigues Teixeira, Pelourinho à Sé
População de Salvador em 1779
65.285 habitantes
Um senso datado de 5 de dezembro de 1780 (feito em 1779), demonstra que a população do município era de 65.285 habitantes, sendo 39.209, na Cidade, e 26.076, nos subúrbios. Salvador era a maior cidade do Brasil. A segunda maior era o Rio de Janeiro, com cerca de 50 mil habitantes no final do século 18.
Os dados de 1780 são apresentados por Brás do Amaral (1861-1949) na Nota 12 das Memórias Históricas e Políticas da Bahia, de Accioli (edição de 1931), volume III, p.83. Os dados são de um códice do Arquivo Público, com o seguinte cabeçalho: Mappa da enumeração da gente e povo desta Capitania da Bahia, pelas freguezias das suas comarcas com a distincção em 4 classes das idades, pueril, juvenil, varonil e avançada...
Um levantamento feito, 20 anos antes, em 1759, indicou que Salvador tinha 40,2 mil habitantes, excluindo crianças com menos de sete anos. Possivelmente seja a população do município, incluindo os subúrbios.
Outro levantamento, em 1775, indicou que o município tinha 57 mil habitantes (40,9 mil na Cidade e 16,1 mil nos subúrbios).
Vilhena estimou que, em 1799, Salvador teria menos de 60 mil habitantes, apenas na Cidade. Um levantamento, em 1805, indicou 45,6 mil habitantes, e outro, em 1807; 51,1 mil; ambos sem considerar a população dos subúrbios.
Considerando-se esses dados, pode-se estimar que o município de Salvador chegou ao final do século 18 com cerca de 70 mil habitantes.
Um extenso estudo da população de Salvador, até o século 19, foi feito por Katia M. de Queiróz Mattoso (Bahia Século XIX, 1992), que indicou que os dados podiam ser muito imprecisos.
Salvador no início do século 18, ilustração de A. F. Frezier.
Igreja de São Joaquim, um dos últimos templos construídos pelos jesuítas no Brasil. Embora pouco celebrada, a Casa Pia e Colégio dos Órfãos de São Joaquim, antigo Noviciado dos Jesuítas, tem grande mérito arquitetônico e de arte sacra.
Casa Pia e Colégio dos Órfãos de São Joaquim
Salvador no Século 18
Por Jonildo Bacelar
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Salvador no Século 18